segunda-feira, junho 16, 2008

Caroline Miranda - "Meu Selinho"

Comprei o conversor e vi TV digital por um dia", relata aposentado













DIÓGENES MUNIZ
Editor de Informática da Folha Online

Empolgado com o que ouviu falar sobre as belas imagens da TV digital, o ferroviário aposentado José Carlos Lage, 58, da Barra Funda (zona oeste de SP), comprou no fim do mês passado um conversor para receber a TV digital. Optou pelo modelo mais barato, o DigiTV da Positivo --R$ 499, em três parcelas. "Funcionou só um dia", relata.

Num primeiro instante, ele avaliou ser um problema no controle remoto do "set-top box". Comprou pilhas. Nada. Depois, foi incentivado por um vendedor a adquirir uma antena da Philips "própria para a TV digital". "Compramos por R$ 39. Colocamos no lugar mais alto da sala e conectamos no conversor, como orientaram. Aí [o conversor] parou de funcionar de vez, nem ligava mais a 'luzinha' do equipamento."

O aposentado resolveu então levar o produto para a loja, mas os sete dias previstos para a troca já haviam expirado. "Eles disseram também que não tinham mais no estoque." A Positivo suspendeu temporariamente a produção dos aparelhos, alegando ter estoque suficiente para mais "alguns meses".

"Mesmo quando [a TV digital] estava pegando, vários canais não apareciam direito", conta Lage. Sua saga, até onde relatou à reportagem, acaba na assistência técnica, na última segunda-feira (2). Ele entregou o aparelho para o conserto, sem previsão de entrega. "Uma pena, porque a gente que é aposentado acaba ficando na TV, mesmo", lamenta.

Infortúnios digitais semelhantes são relatados por dezenas de consumidores em fóruns da internet. Para algumas pessoas, poucos canais funcionam, por conta das sombras na transmissão ou pela potência irregular dos transmissores. Para outras, nem o conversor funciona.

Segundo Hélio Rotenberg, presidente da Positivo, a companhia teve "algumas devoluções, mas nada significativo". Ele diz que alguns aparelhos precisam ter seu sistema atualizado, "mas funcionam normalmente".

Juliano Castilho, diretor da área de TV digital do CPqD (Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações), defende que o consumidor tenha acesso, no momento da compra, a um mapa padronizado com os problemas que pode enfrentar na recepção.

"O varejo deveria ter os mapas das transmissões, com zonas de sombra [onde o sinal não chega]. Isso já acontece no próprio Japão. Mesmo porque, só vou comprar um negócio se souber que vou levar pra casa e vai funcionar", diz Castilho.

A Philips mantém em seu site um mapa --restrito e contestado por técnicos-- sobre a recepção da TV digital na capital paulista. Nele, a região onde mora o aposentado José Carlos Lage tem sinal "bom".

Segundo ministro das Comunicações, Hélio Costa, a falta de orientação prejudicou os consumidores. "Vendeu-se o conversor, mas não se vendeu a antena UHF. Isso fez um verdadeiro estrago na TV digital brasileira. De repente ficou, parecendo que a transmissão é que é fraca, que há problemas com TV. Quando, na verdade, o problema está entre o vendedor dos aparelhos e o local onde a TV está", afirma.